segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Palavras para a minha Mãe

Mãe, tenho pena.
Esperei sempre que entendesses
As palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
Sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
Pelas palavras que nunca disse,
Pelos gestos que me pediste tanto
E eu nunca fui capaz de fazer,
Quero pedir-te desculpa, mãe
E sei que pedir desculpa não é suficiente.
Às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
A fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
Mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

Lê isto: mãe: amo-te.

Eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir
Que não escrevi estas palavras,
Sim, mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras,
E tu hás-de fingir que não as leste,
Somos assim, mãe,
Mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

Este belo poema acompanhou a prenda que ofereci à minha mãe no seu dia. Um problema geracional talvez, aquele que me impede de ter facilidade em demonstrar afectos para com os meus pais... Eu sei que ela compreendeu!

Um comentário:

De vocês cá p'ra mim